Páginas

16/11/2017






Há dois anos, tive vários sonhos com cobras durante dias seguidos. Em um deles eu estava em uma caverna enorme, linda e nela havia um rio subterrâneo e pessoas subiam nas pedras para mergulharem nessas águas que de tão límpidas, podia-se vê-las até o fundo.

Eu, sentada em uma pedra observando todo o movimento, percebi que o chão se “mexia” e ao botar mais atenção vi que haviam cobras pelo chão, muitas delas e eu ia apontando e dizendo: nossa você é uma coral verdadeira, você é uma jararaca...e me levantei para caminhar entre elas enquanto elas armavam o bote mas, não atacavam, se afastavam enquanto eu caminhava. Fui a beira daquele rio e senti um desejo de pular quando, um braço masculino (foi a única coisa que vi desse ser) me segurou e disse: - não, você não deve mergulhar aqui, já que a maré baixa e você não voltará. Eu, assustada perguntei: A maré? Como assim?

E olhando para o rio vi que as águas baixavam rapidamente e com elas, as cobras desapareciam, iam se recolhendo...(fim)

Uma semana após esse sonho, fiz uma caminhada com dois amigos, em direção a praia do Bonete em Ilhabela, uma jornada de 14 km de muuuitas subidas difíceis, mas que vale a pena fazer. Durante essa caminhada, senti em um momento que pisei em um tronco grande e não forcei o pé, quando esse “tronco” se levantou e ficou de frente pra mim. Meu coração parou e a única coisa que eu fiz foi levantar os braços (como se fosse fazer diferença ficar de braços abaixados) e em minha cabeça a pergunta era: “quem é você..quem é você...quem é você.....eu precisava reconhecer que cobra era, para saber o que fazer a partir de então..passou um filme na cabeça..então reconheci que era uma caninana, uma cobra não venenosa que ao me olhar nos olhos, voltou ao chão, se escondendo no mato. Depois a vimos atravessar a trilha e percebemos que era realmente grande!

Bem, estou contando isso porque estou em um caminho de volta às minhas origens, cada vez mais buscando conhecer a cultura Guarani, honrando assim minha avó materna, meu pai e a mim mesma; descobri que há uma lenda nossa que fala da caninana, mas descobri mais do que isso. Descobri que quando a ancestralidade te chama, ela dá um jeito de ser ouvida, ou vista no meu caso e que cedo ou tarde, entendemos os sinais que chegam. Nesse momento onde tudo se encaixa no espírito, na mente e no coração (e pele), apenas a gratidão se faz presente!

Reza a lenda que Jacy (Lua) e Iassytatassú (Estrela d'alva), combinaram visitar o centro da Terra. Quando foram atravessar o abismo, Caninana Tyiiba mordeu a face de Jacy. Jacy derramou suas lágrimas sobre uma plantação de mandioca. Depois disso o rosto de Jacy ficou marcado para sempre pelas mordidas de Caninana. À partir das lágrimas de Jacy, surgiu o tycupy (tucupi).



Obs: Do Tupi guarani tucu-pi = a decoada picante. Sumo da mandioca puba – apodrecida.

Medicina da cobra: COBRA OU SERPENTES:

A cobra sabe que terá de trocar de pele e se deixar transmutar, aceitando o que lhe acontece de novo. Simplesmente vamos mudando, assimilando idéias e inspirações. Quando notamos, não somos mais os mesmos. A serpente traz a força para nos adaptarmos a novas mudanças de vida. A força da medicina da cobra e a força da criação englobam a sexualidade, a energia psíquica, a alquimia, a reprodução e a imortalidade. Regeneração, sabedoria, sensualidade, cura e psiquismo.


Rose Kareemi Ponce

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário para nosso blog, com eles poderemos melhorar e aprimorar nossos textos e abordagens!!